segunda-feira, 24 de junho de 2013

Trade comenta impacto de protestos na imagem turística do país

A onda de protestos que ocupou as ruas das principais cidades brasileiras, com o comportamento violento de uma minoria e as consequências da forte ação policial, ganhou a atenção da mídia internacional. Governos no exterior alertam seus cidadãos para que tenham cautela em viagens ao Brasil. Convocados principalmente para lutar contra o aumento do custo dos transportes públicos e os custos de sediar a Copa de 2014 e as Olimpíadas do Rio em 2016, os protestos já se tornaram os maiores já vistos no Brasil em mais de 20 anos. Com manifestações marcadas para os próximos dias, a preocupação é com o reflexo dos atos violentos na imagem turística do país.

O secretário-executivo do Ministério do Turismo, Valdir Simão, em recente coletiva de imprensa, ressaltou, no entanto, que os episódios fazem parte do processo democrático e que não afetarão a imagem do país. "A Copa é um evento muito bem planejado, inclusive na questão da segurança pública". Antônio Pedro Viegas, secretário especial de Turismo do Rio de Janeiro, também se mostrou tranquilo com a repercussão das manifestações no exterior. "Chegaram os grandes eventos, chegaram as grandes manifestações. Enquanto forem pacíficas, está tudo certo. Estivemos na Espanha durante a última Jornada Mundial da Juventude e presenciamos diversas manifestações contra o evento. Nenhuma delas vai atrapalhar os nossos, enquanto forem pacíficas". 

A ONU, na semana passada, pediu ao Brasil um diálogo aberto com os manifestantes e a investigação do uso excessivo de força policial, para garantir o direito de reunião pacífica. Registro de prisões arbitrárias, ataques a pessoas aleatórias, inclusive dentro de estabelecimentos, foram denunciados pela população durante as manifestações. Novos protestos pacíficos são convocados em diversas cidades brasileiras nesta e nas próximas semanas, e a força policial já prometeu "reforço". Por falta de granadas em estoque, a polícia do Rio de Janeiro recebeu dois mil artefatos produzidos em Angola, onde a concentração de lacrimogêneo é de 20% - no Brasil, o máximo permitido é de 10%.

Ralf Aasmann, diretor geral da Emirates para o Brasil, ressalta que já se nota uma redução no comércio de passagens aéreas para o Brasil - situação que se soma ao mau momento do Turismo em geral, com a alta do dólar. "Essa turbulência está assustando as pessoas. Os Estados Unidos e a Inglaterra, por exemplo, colocaram um aviso no site alertando sobre viagens ao Brasil. Quem perde é o receptivo brasileiro e as aéreas. As pessoas estão mudando seu planos de viagem. No Brasil, principalmente devido aos episódios de violência e, para o exterior, devido ao câmbio. O Turismo é essencial para as pessoas, mas é passível de cancelamento".

Paulo Senise, superintendente do Rio CVB, alerta para o perigo da infiltração de pessoas nas manifestações, não comprometidas com os objetivos delas. "Essa situação cria um estado de alerta com desdobramentos futuros. Essas manifestações estão muito em linha com as que acontecem em outros países da Europa e da Ásia, por exemplo. O impacto vai depender da extensão do lado negativo, da infiltração de marginais. Com a manifestação em si, não há preocupação, mas, sim, admiração. O problema é a criminalidade que está se aproveitando da situação". De acordo com ele, o setor carioca não observou impacto negativo na atração de eventos com os protestos.

Bayard Boiteux, coordenador do curso de Turismo da UniverCidade, concorda com a legitimidade dos protestos e o perigo da infiltração de grupos extremistas e do abuso na força policial, o que afeta a imagem do país. "Esse clamor popular tem um aspecto positivo. O 'quebra-quebra' no final das manifestações, no entanto, passa uma imagem negativa do destino para o mercado turístico. Países emissores como Alemanha já pedem para que os cidadãos tomem cuidado. O problema não é a manifestação em si, que é bonita. Mas a atuação de vândalos pode afugentar os turistas. Estou preocupado com o reflexo disso na Jornada Mundial da Juventude. Quando os policiais assumem uma postura um pouco mais 'contundente' também, é preocupante. A ONU pediu que o governo brasileiro oriente os policiais a atuarem de uma forma mais branda. Eu acho que isso efetivamente afeta a imagem do Brasil". 

Michel Tuma Ness, presidente da Fenactur, por sua vez, reforça a questão dos altos investimentos nos estádios de futebol brasileiros, um dos principais motivos do protesto. "Acho que a manifestação é justa e correta. O investimento que foi feito nos estádios de futebol para a Copa foi muito grande. O de Brasília, por exemplo, recebeu um investimento de R$ 1,3 milhão e nem tem um time de futebol na cidade. É um lugar que vai ficar às moscas. Porque não se constroi um estádio para receber shows, mas para receber partidas de futebol. Não adianta falar que ele vai servir para outra coisa depois". 
- Pamela Mascarenhas

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