Para quem está tentando achar um lugar na praia de Copacabana, ou vendo os preços dos hotéis em Ipanema, fica claro que o turismo aqui está indo bem. Mas não é como antes. Não são os estrangeiros que estão por trás desse crescimento. São os brasileiros.
Os dados da WTTC (World Travel & Tourism Council) confirmam o que os hoteleiros já vêm falando. O turismo no Brasil já quase não tem nada a ver com os gringos.
Em 2011, 95% da renda no setor de viagens e turismo veio de brasileiros. Só 5% veio de estrangeiros. Nos últimos quatro anos, a contribuição local tem crescido muito mais que o número de estrangeiros chegando - que, na verdade, não tem crescido.
Em 2014 e 2016, o Brasil vai convidar o mundo para os eventos esportivos mais importantes do planeta: a Copa e os Jogos Olímpicos. Mas, agora, é a nova classe média brasileira que está sustentando o turismo.
"Geralmente, países recebem dois terços da renda no setor do consumidor local, e um terço de fora," diz David Scowscill, CEO da WTTC. "As exceções são os BRICs, especialmente o Brasil e a China, onde a nova classe média está viajando pela primeira vez, normalmente dentro dos próprios países.
Mas nem o maior país do mundo tem uma taxa tão exagerada. A China recebe 11% da renda do setor de fora. O Brasil tem um dos setores de turismo menos internacionais no mundo.
"Aqui na zona sul carioca, o trânsito está pior que nunca. Mas não é tanto os gringos, é mais gente de outras partes do país," diz o taxista William. "Bom, daqui a pouco pretendo conhecer as partes históricas do Nordeste."
Números da Embratur confirmam o fato. Entre 2005 e 2010, o número de viagens cresceu de 139 milhões a 186 milhões por ano, enquanto o número de visitantes internacionais ficou estável em 5 milhões por ano.
Segundo Scowscill, várias questões atrapalham o crescimento do número de visitantes. Há os problemas de infraestrutura nos aeroportos e as questões dos vistos.
E tem o custo. Nos últimos três anos, o Brasil ficou caro, enquanto os países ricos vivem uma crise econômica. Para os estrangeiros, o Rio não se enquadra mais em uma viagem barata e relaxante. "Quanto custa um duas-estrelas agora em Ipanema? Uns US$ 400?" pergunta Dwight Clancy, norte-americano que visita o Brasil a trabalho.
Antes desses grandes eventos esportivos, por que o Brasil não está fazendo mais para atrair gringos? Pode ser que, no momento, não seja preciso. São os compatriotas que estão enchendo as vagas.
VINCENT BEVINS é colaborador do "Financial Times", correspondente do "Los Angeles Times" e, na Folha.com, escreve o blog From Brazil.
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