terça-feira, 15 de novembro de 2011

A pacificação, a Rocinha e o turismo

Jornal do Brasil
Bayard do Coutto Boiteux


A violência urbana foi e continua sendo uma marca do Rio de Janeiro e do Brasil. Há sempre uma percepção negativa da Cidade Maravilhosa por força da criminalidade, do tráfico de entorpecentes e do desrespeito aos direitos básicos do cidadão. Várias ações foram desenvolvidas, ao longo dos últimos vinte anos, para reduzir tal impacto na imagem institucional do Rio e sobretudo para adequar melhor os programas governamentais aos “vácuos” existentes nas comunidades, pela ausência do poder público. Sinceramente, houve pouco avanço, e faltou, como sempre, continuidade.

A pacificação, implementada no governo Sérgio Cabral, deve ser considerada como uma forma efetiva de devolver os bairros dominados aos moradores. Sabemos que se trata de programa complexo, que demanda união dos três níveis de governo e esbarra em desvios de conduta, por parte de alguns integrantes das forças de segurança. Temos ciência de que não há efetivo para resolver todo o problema do Estado mas que ações tomadas no Alemão e agora na Rocinha são emblemáticas e históricas na recuperação de uma cidade dita “maravilhosa” mas que esbarrava constantemente em problemas pontuais com turistas, inclusive a invasão de um hotel, em São Conrado, recentemente.

O processo de pacificação da Rocinha se apresentou, até então, com novidades de inteligência, que permitiram um acesso mais tranquilo. A Rocinha é uma terra de contrastes: são mais de 30 bairros que abrigam desde uma classe média que vive de aluguéis de imóveis e lojas até uma população que mora no chamado ”valão”, onde as casas e as condições de infraestrutura são precárias. No entanto, pouco se conseguiu encontrar da atividade ilícita até o presente momento. Esperamos que nos próximos dias as incursões tragam resultados positivos para a criação de uma verdadeira comunidade pacificada.

Inúmeros jornais, televisões e rádios relataram a ocupação. No levantamento que fizemos desde sábado, foram 345 jornais, 96 canais de televisão, 420 rádios e 850 sites, no exterior. Com raras exceções, a ocupação foi comentada com termos amenos, citando a capacidade das tropas e o preparo das mesmas e mencionando os próximos eventos esportivos ,como a Copa e a Olimpíada. Os órgãos de turismo devem fazer um acompanhamento de tais veiculações e manter sempre contato com os correspondentes estrangeiros e consulados no Rio, através de reuniões e coletivas, para que fiquem inteirados de todas as informações decorrentes.

A visitação às comunidades que vem sendo incentivada pelo governo estadual, por parte de turistas, também necessita de um dimensionamento distinto. As comunidades locais devem se integrar ao processo de comercialização dos roteiros, criando programas e feiras de artesanato, conscientizando a população local sobre a importância do turismo, mantendo um projeto de capacitação dos moradores e incentivo para abertura de empresas locais, que operem os tours. O approach não pode ser de um “safári” em função do transporte e vestimentas dos responsáveis pelos tours mas deve buscar a utilização do transporte existente e uma conotação mais cultural.

Acredito que estamos passando por um momento histórico de enfrentamento efetivo em locais, onde a ausência do setor público permitiu a tomada de poder pelos traficantes ou milícias. Quero crer que não é uma ação de marketing para atender os eventos esportivos mas que veio para ficar, como uma política de governo, para a segurança. Espero também que, juntamente com a pacificação, venham programas sociais de geração de emprego, de qualificação, de esporte, e que nossas forças de segurança sejam sempre treinadas para realizar suas atividades, dentro da legalidade.

Bayard Do Coutto Boiteux dirige os cursos de turismo e eventos da UniverCidade e preside o Site Consultoria em Turismo (www.bayardboiteux.com.br)

Fonte: http://www.jb.com.br/sociedade-aberta/noticias/2011/11/14/a-pacificacao-a-rocinha-e-o-turismo/

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